Museu Jorge Amado

No Pelourinho, Salvador, Bahia, o ponto de encontro dos fãs do genial escritor Jorge Amado.

Quarteto Terrível

Na Pedra do Sal, em Salvador, com Carybé, Juca Chaves e Georges Moustaki, em 1983. (Zélia Gattai)

Pelé e Jorge

Louco por futebol, Jorge sempre teve por Pelé - pelo esportista e pelo homem a maior admiração e grande estima. A foto é de 1986, no Palácio do Planalto. (Zélia Gattai)

Reunião Espacial

Com Raymundo Magalhães Júnior, Mauritônio Meira e Iuri Gagarin, por ocasião da visita do cosmonauta soviético ao Brasil, Rio, 1962. (Zélia Gattai)

Caetano e Betânia

A turma de Paloma e João, na Bahia, era formidável! Jovens inteligentes, sensíveis, alegres, sadios... Entre eles, Maria Betânia e Caetano Veloso, conhecidos como os meninos de dona canô e de seu Zeca de Santo Amaro da Purificação. De repente, começou-se a ouvir rumores de que os meninos Veloso eram bons de música: Caetano revelava-se um compositor de mão-cheia, um talento excepcional. Betânia estourou com sua voz inigualável em 1965 no Teatro Vila Velha, num programa semanal intitulado "Esta noite se Improvisa", onde o placo era franqueado a quem quisesse. Naquele sábado, Betânia entrou em cena e cantou Carcará, de João do Vale, e foi aquele entusiasmo da platéia, a aplaudir de pé a frágil menina de voz tão poderosa. Jamais esquecerei aquela noite. Hoje, conhecidos e amados tanto no Brasil como pelo mundo afora, os filhos de dona Canô e de seu Zeca continuam fiéis às suas raízes, na simplicidade, na personalidade dos que são realmente importantes. Nestas fotos vemos Maria Betânia com Jorge em Paris, 1986; Caetano Veloso com Jorge na casa do Rio Vermelho, Salvador, 1985. (Zélia Gattai)

Silvio Caldas, grande amigo

Com o cantor Sylvio Caldas, amigo de juventude, na casa do Rio Vermelho - 1965. (Zélia Gattai)

Casamento de João Gilberto e Astrud

João Gilberto e Jorge são autores de uma canção em parceria no filme adaptado de Seara Vermelha por Alberto d'Aversa. Exigente e responsável como ele é só na criação das suas músicas, Joãozinho varou noites a fio ao violão antes de se dar por satisfeito e dar por terminada a melodia do Lamento de Dalva. Jorge Amado no casamento de João Gilberto com Astrud, no Rio de Janeiro do qual fomos padrinhos. (Zélia Gattai)

Visita do maestro Tom Jobim

Com Tom Jobin, na casa do Rio Vermelho, no reveillon de 1984. (Zélia Gattai)

Jorge, Vinícius e... o inseparável copo!

Com Vinícius de Moraes, na casa do Rio Vermelho, 1979.

Jorge Amado escrevendo

Na varanda da casa do Rio Vermelho, com o gato Nacib, escrevendo Dona Flor - 1966. (Zélia Gattai)

Momento mágico de criação de um gênio

No estúdio da casa do Rio Vermelho, escrevendo Tereza Batista, concentrado no trabalho, Jorge nem se deu conta da presença da fotógrafa, o que sempre acontece quando se encontra às voltas com os personagens de seus romances - 1972. (Zélia Gattai)

Jorge e Nacib

Em Paris, Marcello Mastroianni, que interpretou 'Nacib' no filme da Metro Gabriela, se hospeda no Hotel de I'Abbaye, o mesmo hotel em nos hospedamos há muitos anos. Nos encontramos sempre, e a cada encontro de Jorge com Marcello resulta em um bom bate-papo. Em Paris, 1986. (Zélia Gattai)

Admirador de Fernanda Montenegro

Jorge Amado sentiu-se homenageado pela Air France, em 1983, com o convite para fazer a entrega do Prêmio Molière para a melhor atriz de teatro do ano, Fernando Montenegro, de quem sempre foi grande admirador. Com Fernanda Montenegro no Rio - 1983. (Zélia Gattai)

Sônia Braga, filha 3 vezes

Sonia Braga sempre diz: "Sou filha de Jorge Amado três vezes: fui 'Gabriela' duas vezes, na novela da globo e no filme da Metro, e fui 'Dona Flor' no filme de Bruno Barreto". Jorge acrescenta: "Filha e amiga muito querida". Festival Internacional de Cinema em Cannes, 1985. (Zélia Gattai)

Uma Tieta chamada Sofia Loren

Lina Wertmüller ia dirigir um filme adaptado de Tieta do Agreste. Sofia Loren seria a estrela principal. O projeto do filme gorou quando tudo estava pronto para a filmagem, na Itália, devido à falência do Banco Ambrosiano, que financiava o empreendimento. No apartamento de Sofia Loren, em Paris, 1980. (Zélia Gattai)

Jorge Amado e Roman Polanski

Roman Ponlanski apareceu na Bahia para conhecer Jorge Amado: "O senhor foi o escritor que li na minha adolescência, na Polônia", contou. Rio Vermelho - 1968.

Glauber Rocha, outro baiano genial

Em 1968, com Glauber Rocha na porta do nosso restaurante chinês da rue du Sommerard, em Paris, restaurante que frenquentamos há séculos. (Zélia Gattai)

Glauber era um menino quando o conhecemos. Ainda não havia filmado O Pátio. Jorge tinha por ele imensa ternura e acompanhou sua carreira passo a passo, dando-lhe semre maior força, esteve presente em momento difíceis de sua vida. Glauber retribuía com idêntica amizade e admiração. Realizou um documentário sobre Jorge, Jorgeamado no Cinema. Foi- nos dada a terrível provação de assistir sua agonia em Lisboa, em 1981. A foto que aqui se publica é o último retrato de Glauber, feito por mim no hospital lisboeta, poucos dias antes de sua morte. Glauber era um profeta, era um turbilhão, era São Jorge contra o dragão da maldade. (Zélia Gattai)

Um refresco na piscina

Jean Rosenthal, diretor das EditionsStock, que publica há anos traduções francesas dos livros de Jorge, e Jean Claude Lattès, Diretor-Presidente das Organizações Hachette, editor de Jorge, foram à Bahia a convite do escritor para assistir à festa de Iemanjá. Nesse dia em nossa casa encontravam-se Zora e Antônio Olinto, vindos de Londres também para a festa do 2 de fevereiro. Pleno verão, fazia calor - principalmente para quem chega de rigoroso inverno europeu - e nada como um banho de piscina. Banho acompanhado de sorvete de pitanga, feito a capricho por Eunice, nossa antiga e fiel quituteira - 1985. (Zélia Gattai)

Jorge Amado e José Sarney

Com o presidente da República, seu colega e amig, José Sarney, no Palácio da Alvorada, 1985. (Zélia Gattai)

Academia Brasileira de Letras

Um encontro com João Cabral de Melo Neto e Viana Moog, na Academia Brasileira de Letras, Rio, 1985. (Zélia Gattai)

Irineu Garcia, João Ubaldo e Jorge

Irineu Garcia e João Ubaldo em Lisboa com Jorge, em 1981. (Zélia Gattai)

Jorge, Sartre, Simone e Niemeyer

Em Brasília, Sartre e Simone se deslumbram com a arquitetura de Oscar Niemeyer, na opinião deles um artista genial. Oscar explica ao casal detalhes de seus edifícios. (Zélia Gattai)

Jorge Amado e Cora Coralina

Cora Coralina enviava poemas e doces para Jorge. Com a poetisa na casa da Ponte, em Goiás Velho, 1977. (Zélia Gattai)

Jorge, Sosigenes e Carlos

Dois poetas, dois amigos inesuecíveis, Sosígenes Costa, baiano de Belmonte, e Carlos Pena Filho, Pernambuco de Recife, ambos desaparecidos prematuramente, perda para o poeta e tristesa para os amigos. Com Jorge, no apartamento do Rio de Janeiro, 1960. (Zélia Gattai)

Jorge, Genaro Carvalho e Ivo Pitanguy

Na casa do Rio Vermelho, Jorge Amado com o artista Genaro de Carvalho e o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, ogan de Xangô - 1970. (Zélia Gattai)

Jorge Amado e Pablo Neruda

Jorge e Neruda, num mercado em Rangoo, 1952. (Zélia Gattai)

Stella, Caymmi e Jorge

Com Stela Maris e Dorival Caymmi, na casa do Rio Vermelho, 1977. (Zélia Gattai)

Jorge e Caymmi: irmãos gêmeos?

Os dois compadres, Jorge e Dorival, em Copacabana, 1977. (Zélia Gattai)

Visita do amigo Caribé

Carybé com Jorge, na casa do Rio Vermelho. (Zélia Gattai)

Adeus, Mãe Runhó

No candomblé do Bogum, no velório de Mãe Runhó, Carybé, Nicinha e Jorge - 1975. (Zélia Gattai)

Mãe Menininha do Gantois

Jorge Amado pede benção à grande ialorixá da Bahia, no terreiro do Gantois.

Jorge, Pedro e Paloma

Nossa casa se ilumina, fica alegra, sempre que Paloma, Pedro e as meninas chegam para uns dias conosco. Com Pedro e Paloma, na casa do Rio Vermelho, em 1980.

Zélia Gattai, a eterna musa

Auto-retrato

Glauber Rocha, outro baiano genial

Em 1968, com Glauber Rocha na porta do nosso restaurante chinês da rue du Sommerard, em Paris, restaurante que frenquentamos há séculos. (Zélia Gattai)

Glauber era um menino quando o conhecemos. Ainda não havia filmado O Pátio. Jorge tinha por ele imensa ternura e acompanhou sua carreira passo a passo, dando-lhe semre maior força, esteve presente em momento difíceis de sua vida. Glauber retribuía com idêntica amizade e admiração. Realizou um documentário sobre Jorge, Jorgeamado no Cinema. Foi- nos dada a terrível provação de assistir sua agonia em Lisboa, em 1981. A foto que aqui se publica é o último retrato de Glauber, feito por mim no hospital lisboeta, poucos dias antes de sua morte. Glauber era um profeta, era um turbilhão, era São Jorge contra o dragão da maldade. (Zélia Gattai)

Prêmios e Títulos

Prêmios Internacionais
Prêmio Stalin da Paz (Moscou-1951), posteriormente Prêmio Internacional Lenin;
Prêmio da Latinidade da Academia do Mundo Latino (França-1971), com Ferreira de Castro e Eugênio Mondale;
Prêmio do Instituto Ítalo-Americano (Itália-1976);
Prêmio Internacional Dag Hammarsk (Portugal-1983);
Prêmio Nonino (Itália-1984);
Prêmio Dimitrov de Literatura (Sofia-1986);
Prêmio Pablo Neruda (Moscou-1989);
Prêmio Etruria de Literatura (Itália-1989);
Prêmio Cino Del Duca (Itália-1990);
Prêmio Mediterrâneo (Itália-1990);
Prêmio Vitaliano Brancatti (Itália-1995);
Prêmio Luís de Camões (Portugal-1995);
Medalha de Vermeil (França-1988);
Medalha de Ouro Simón Bolivar (Francia,1997);
Prêmio Mediterrâneo do Centro di Cultura Mediterranea (Itália, 1998).

Prêmios Brasileiros
Prêmio Graça Aranha, Rio de Janeiro (1936);
Prêmio Machado de Assis do Instituto do Livro do Brasil, Rio de Janeiro (1959);
Prêmio "Jornal do Comércio", Rio de Janeiro (1959);
Prêmio Luisa Cláudio de Souza, Rio de Janeiro (1959);
Prêmio Carmem Dolores Barbosa 58, São Paulo (1959);
Prêmio Jabuti, São Paulo (1958, 1995);
Prêmio Paula Brito, Rio de Janeiro (1959);
Prêmio Juca Pato 69, São Paulo (1970);
Prêmio Fernando Chinaglia, Rio de Janeiro (1982);
Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira, São Paulo (1982);
Prêmio Brasília de Literatura, Brasília (1983);
Prêmio Moinho Santista de Literatura, São Paulo (1984);
Prêmio Personalidade Literária do Ano, São Paulo (1984);
Prêmio BNB de Literatura, Ceará (1985);
Prêmio Pablo Picasso. Brasília (1988);
Medalha do Mérito Jornalístico da Associação Baiana de Imprensa, Brasil (1996);
Prêmio do Ministério da Cultura (1997).

Títulos
Comendador da Ordem de Andrés Bello (Venezuela-1977);
Comendador da Ordem das Artes e das Letras (França-1979);
Comendador da Legião de Honra (França-1983);
Comendador da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho (Brasil-1983);
Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal-1986);
Comendador da Ordem do Congresso Nacional (Brasil-1986);
Comendador da Ordem do Mérito de São Jorge dos Ilhéus (Brasil-1992);
Comendador da Ordem do Mérito Aperipê (Brasil-1992);
Comendador da Ordem de Maio (Argentina-1992);
Comendador da Ordem do Mérito Cultural (Brasil-1995);
Comendador da Honorífica Ordem da Cultura, pela Academia de Cultura de Curitiba (Brasil,1996).
Grã-Cruz da Ordem do Mérito de Brasília (Brasil-1988);
Grã-Cruz da Ordem de Bernardo O'Higgins (Chile-1993);
Grande Oficial da ordem de Santiago da Espada (Portugal-1980);
Grande Oficial da Ordem do Mérito da Bahia (Brasil-1981);
Grande Oficial da Ordem do Rio Branco (Brasil-1987);
Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (Brasil-1980);
Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará (Brasil-1981);
Doutor Honoris Causa da Universidade Lumière, Lyon II (França-1987);
Doutor Honoris Causa em Língua e Literatura da Universidade de Dagli Studi (Bari-1990);
Doutor Honoris Causa da Universidade de Israel (Israel-1990);
Doutor Honoris Causa da Unversidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Brasil-1992);
Doutor Honoris Causa da Universidade de Pádua (Italia-1995);
Doutor Honoris Causa da Universidade Paris III - Sorbonne Nouvelle (França-1998);
Doutor Honoris Causa da Universidade de Bolonha (Itália-1998);
Doutor Honoris Causa da Universidade de Lisboa (Portugal-1998);
Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília (Brasil-1999)
Ordem Carlos Manuel de Céspedes, Conselho do Estado da República de Cuba (Cuba -1988);
Ordem do Mérito Cultural (Brasil-1996);
Sócio Honorário do Centro Brasileiro da Associação Mundial de Escritores (Brasil-1987).

Biografia

Um criador de seres, um contador de histórias, um construtor de mundos...

Por Genny Xavier

"Nasci empelicado, de bunda para a lua, uma estrela no peito, a sorte me acompanha, tenho corpo fechado à inveja, a intriga não me amarra os pés, sou imune ao mau-olhado. A vida me deu mais do que pedi, mereci e desejei. Vivi ardentemente cada dia, cada hora, cada instante, fiz coisas que Deus duvida, conivente com o Diabo, compadre de Exu nas encruzilhadas dos ebôs. Briguei pela boa causa, a do homem e a da grandeza, a do pão e a da liberdade, bati-me contra os preconceitos, ousei as práticas condenadas, percorri os caminhos proibidos, fui o oposto, o vice-versa, o não, me consumi, chorei e ri, sofri, amei, me diverti. (...)"
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

Filho do Cel. João Amado de Faria e D. Eulália Leal Amado, nascido a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul da Bahia – plagas que ele mesmo chamou de terras do sem fim – , Jorge Amado viveu sua infância entre os cenários das fazendas de cacau, de onde, talvez, já tivesse extraindo, da vida simples do povo, a substância original que povoaria o imaginário das histórias que mais tarde viria contar.

"Da coragem indômita nasceu a civilização grapiúna (os poetas, os ficcionistas, tantos), batida sobre o sangue derramado. Os coronéis do cacau, eu os aprendo, irão ser meus personagens nas histórias de espantar. (...)"
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

Mudou-se com a família para Ilhéus quando tinha um ano de idade, onde passou a infância e estudou os primeiros anos. Desde então, passara a eternizar no coração aquela Ilhéus que mais tarde eternizaria em suas obras, radiografando seus costumes e tipos, suas aventuras e belezas.

"Eu aprendia os coronéis nas ruas de Ilhéus, os jagunços nas roças de cacau, cursava meus preparatórios antes de vir para as universidades dos becos e ladeiras da Bahia."
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

Em Salvador, já adolescente, estudou no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, onde ficaria até concluir o curso secundário. Os anos da juventude pelas ruas da cidade da Bahia deram ao Jorge Amado que conhecemos pela obra, o aprendizado popular, repleto de cheiros e gostos, temperos e delícias, crenças e costumes. Neste período de estudante, começou a trabalhar em jornais e a se envolver com os eventos culturais e literários da cidade. Foi um dos fundadores e participante ativo da "Academia dos Rebeldes", fundada em 1928, sob os ecos da Semana de Arte Moderna (1922) e que, ao lado de outros grupos como os das revistas "Arco e Flecha" e "Samba", protagonizaram importante luta pela modernidade nas letras baianas.

"A Academia dos Rebeldes foi fundada na Bahia em 1928 com o objetivo de varrer com toda literatura do passado. (...) Não varremos da literatura os movimentos do passado, (...). Mas sem dúvida concorremos de forma decisiva (...) para afastar as letras baianas da retórica, da oratória balofa, da literatice, para dar-lhe conteúdo nacional e social na reescrita da língua falada pelos brasileiros. Fomos além do xingamento e da molecagem, sentíamo-nos brasileiros e baianos, vivíamos com o povo em intimidade, com ele construímos, jovens e libérrimos nas ruas pobres da Bahia."
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

No Rio de Janeiro, fez o curso superior onde se tornou bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito. Diplomou-se 1935, onde já havia publicado os romances:"O País do Carnaval" (1931), "Cacau" (1933), "Suor" (1934) e "Jubiabá" (1935), entretanto, não haveria de exercer, ao longo da vida, a carreira jurídica.
Casou-se com a escritora Zélia Gattai em 1945, com quem viveu uma longa trajetória de companheirismo, aventuras e conquistas. Tiveram dois filhos: João Jorge, nascido no Rio de Janeiro em 1947 e Paloma, nascida em Praga (Tchecoslováquia) no ano de 1951, ocasião em que se encontrava exilado naquele país.

"Quando durante o Primeiro Congresso de Escritores Brasileiros, reunido em São Paulo nos inícios de 1945, me apaixonei por Zélia, comuniquei ao poeta Paulo Mendes de Almeida, meu amigo e amigo dela, apontando-a entre as muitas senhoras e moças que acorriam às sessões, umas poucas para acompanhar os debates, a maioria para namorar:
- Aquela ali vai ser minha mulher.
Paulo riu da minha cara.
- Aquela qual? Zélia? Jamais, não é mulher para o seu bico.
Não desisti, não tirei da cabeça, estava me roendo de paixão, fiz o que o diabo duvida, não deu outra, em julho Zélia veio morar comigo. Não vai durar seis meses, agouraram, dura até hoje."
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

Pela experiência artística e pela militância política no Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi eleito Deputado Federal , tomando posse na Câmara em janeiro de 1946. Embora declarasse não ter muitas afinidades com as obrigações do mandato, posto ser avesso aos discursos e aos procedimentos parlamentares, foi responsável por leis que valorizaram e asseguravam direitos à cultura, dentre estas, a emenda que garantiu liberdade de crença religiosa no Brasil. Em 1948, frente as turbulências políticas e a repressão aos movimentos de esquerda teve seu mandato cassado junto com outros companheiros de Parlamento. Neste mesmo ano foi para o exílio em Paris, onde ficaria até 1950. Depois em Praga, até 1952.

"(...) não nasci para parlamentar, sou refratário às tribunas e aos discursos, só amo fazer o que me dá alegria, o que me diverte.(...)"
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

Ingressou na Academia Brasileira de Letras em abril de 1961, onde ocupou a Cadeira nº 23. Foi membro da Academia de Letras da Bahia e membro correspondente da Academia de Ciências e Letras da República Democrática Alemã, da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Paulista de Letras.

Da sua profunda relação e identidade com os povos negros e com os movimentos contra o preconceito aos afro-descendentes, o amado Jorge, contador das histórias da miscigenada cidade de Salvador, ganhou título de "Obá" do "Axé do Opô Afonjá" na Bahia.

"(...) o amor do povo imuniza contra a peçonha dos amargos. (...)"
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

Jorge Amado, o contador épico da saga do cacau nas terras do sem fim, o artífice de personagens inesquecíveis, o revolucionário panfletário dos subterrâneos da repressão, o lírico e o satírico da crônica de costumes do seu tempo, faleceu na Bahia, cidade de Salvador em 6 de agosto de 2001. Faltavam, então, apenas quatro dias onde completaria 89 anos. Deixou-nos mais que um legado de títulos e publicações, mas uma riqueza de universos culturais, contextualizados em fatos, tipos, ambientes e costumes que marcaram e marcam a identidade da Região Cacaueira, da Bahia e do Brasil.

"Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem. Menino grapiúna, cidadão da cidade pobre da Bahia, onde quer que esteja não passo de simples brasileiro andando na rua, vivendo."
(Jorge Amado, "Navegação de Cabotagem")

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
AMADO, Jorge. Navegação de Cabotagem . Rio de Janeiro: Record, 1992.